O contra senso da positividade corporal: quando a indústria da perda de peso encontra influencers "plus-size"
- Mónica Almeida
- Oct 15, 2024
- 3 min read
Updated: Oct 27, 2024

Uma estratégia bem estruturada vale tanto quanto a mais rara das pedras preciosas. Uma nova tendência nasce com contornos que beiram o irónico: a colaboração entre influencers plus-size e a indústria farmacêutica de perda de peso. Sim, o paradoxo salta à vista como o elefante na sala que todos fingem não ver - mas no mundo da mercantilização do corpo, parece que vale tudo.
Virgie Tovar, uma actividade de longa data da positividade corporal provavelmente olhou duas vezes para o e-mail convidando-a a promover medicamentos injectáveis para a perda de peso, pensando que se tratava de um spam, tão desajustada era a proposta. A sua surpresa apenas cresceu quando se apercebeu que não estava sozinha. Amigos e outros activistas também recebiam convites invulgarmente tentadores de agências de marketing, todas com a promessa reluzente de parceria para promover uma nova era de perda de peso... com ou sem a esperada aceitação do corpo.
Do paraíso positivo à realidade comercial
Neste mar de ironia comercial, a explosão de lucros provenientes de fármacos como Wegovy e Ozempic pinta um quadro que rivaliza qualquer manifestação artística dedaísta. Empresas farmacêuticas, com Novo Nordisk à cabeça, reconheceram o potencial dos influencers plus-size como canais viáveis para penetrar em comunidades de positividade corporal. A motivação? Uma espécie de utopia capitalista onde todas as formas se encaixam, desde que resulte em vendas.
Mas por entre promessas de saúde e felicidade, surgem, inevitavelmente, conflitos existenciais. Os actividas encontram-se agora divididos, questionando a moralidade e a autenticidade de tais colaborações: é possível proclamar aceitação do corpo e, simultaneamente, promover medicamentos de emagrecimento? Ou estaríamos perante uma nova forma de dissonância cognitiva?
Influencers ou médicos? O novelo ético
No epicentro deste turbilhão encontra-se o dilema ético e digno de reflexão profundamente séria. O uso de influencers, aparentemente estranho ao insticado mundo da ciência farmacêutica, como porta-vozes de medicamentos levanta questões pertinentes. Afinal, não são peritos médicos, mas as suas vozes, influentes e ressonantes, moldam percepções e criam narrativas.
A estratégia, também adoptada por gigantes como a WeightWatchers, que se associou a figuras públicas para promover a sua nova clínica de perda de peso, é um testamento ao poder salomónico do marketing. A narrativa em desenvolvimento é de normalização e humanização, gdzie os famosos fármacos são despojados do estigma e tornam-se a solução da moda para problemas da forma ou da saúde. Claro que, como esperado, a reacção foi mista. Se por um lado, há influencers que colhem os frutos das parcerias e aplausos, por outro lado, outros perderam seguidores e enfrentam os rigores das críticas.
E agora? uma refinada "utopia" comercial
O esforço de transformar a perda de peso numa empreitada de social media é uma façanha de opulência comercial e ironia deliberada. Será que a aliança entre empresas de peso e os titãs da positividade corporal representa um avanço numa nova era de amor próprio caprichado ou um auto-engano mascarado de auto-aceitação? Para muitos, a perspectiva continua incómoda e preocupante, especialmente quando o marketing suplanta a seriedade da prática médica.
Enquanto as marcas se esgueiram pelas camadas intrincadas de códigos culturais e comerciais, o cenário apresenta-se numa tela oscilante entre a sátira e a realidade, onde as linhas entre a aceitação corporal e a exploração comercial são cada vez mais ténues. O verdadeiro desafio da positividade corporal será encontram um novo equilíbrio, num mundo onde os limites éticos são tão maleáveis quanto as modas que os impulsionam.
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